Pintura para expressar a sociedade

Nas mãos de um jovem, o gosto por estar envolvido com a sociedade e muita pesquisa sobre a vida humana se transformam em um misto de cores, linhas e formas. Aos 19 anos, Juan Angelo Antunes é um ícone para a pintura de Itapoá. Há menos de dois anos, assuntos relacionados à sociedade e a ciência preenchem as telas e os olhos do público.
Em meio às prateleiras cheias de livros da biblioteca, com uma vista privilegiada do mar e ao som da banda municipal que ensaia ao lado, o jovem conta entusiasmado sobre a vontade de ser atuante na sociedade através da pintura. Para ele, a coisa mais importante em um homem é a expressão. “É a forma mais valiosa para você conseguir alguma coisa e alcançar seus objetivos, então eu busco na arte estar em contato com as pessoas”. Juan afirma se sente satisfeito por fazer alguma coisa, por buscar um futuro não só para ele, mas para todos. “É isso que eu quero, porque se eu pintar e não servir pra ninguém, então não adianta nada”.
Com o pai artista plástico, o jovem teve contato com a arte desde pequeno, mas só começou a pintar efetivamente em fevereiro do ano passado. Nascido em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Juan conheceu muitos lugares antes de parar em Itapoá. Com os pais separados, ele e seus três irmãos resolveram acompanhar as viagens do pai artista e correr atrás do sonho de jogar futebol. “Antes íamos muito atrás, nós quatro queríamos ser jogadores”. O pintor chegou a jogar, junto com seus irmãos, em vários times, mas hoje estacionaram no campo das artes. Além da pintura, Juan também se dedica com os irmãos na música e participam da Banda Municipal.
Estudante do segundo ano do ensino médio, Juan explica que suas obras sempre têm um significado. A partir de pesquisas sobre um determinado tema, as obras são pintadas e formam uma série. “Esta série que eu estou agora, Relações de Tempo, é uma pesquisa sobre a ciência”. Preocupado com as modificações que a ciência proporcionou no mundo nos últimos duzentos anos, ele procura pesquisar e repassar isso nas telas. “Se você sair hoje em qualquer lugar, não vai mais ver o espaço natural como era, agora está tudo modificado e até onde vai chegar isso? Até onde a natureza vai aguentar?”. O jovem fala que tenta expressar suas pesquisas nas telas e como não consegue mostrar tudo na primeira, inicia uma série e dentro dela vai estudando e busca melhores formas de expressar.
A série “Relações de Tempo” já dura cinco meses e, conforme Juan, já foram pintadas de 20 à 30 telas. “Agora eu estou mais na questão de buscar simbologia e, mais pra frente, quero juntar esse abstrato com o ser humano, fazer uma relação entre a ciência e o homem”. Nesta série, as pesquisas estão mais centradas na área de filosofia e no método científico. Segundo o pintor, as leituras realizadas são extremamente necessárias para a expressão e questiona: “Se eu não souber isso, como eu vou fazer um trabalho que sirva para a sociedade?”.
Juan também já pintou uma série sobre o litoral, onde a praia, barcos e pescadores eram representados de uma forma figurativa, mas não havia preocupação com perspectivas, luz e sombra. Paralelamente às séries, ele também pinta quadros separados e encomendas.
Em suas telas, o uso de cores fortes é predominante. Ao entrarmos no assunto, o jovem coça a cabeça e explica que isso é algo que está estudando. Para ele, perceber o significado de cada cor e da mistura entre elas é algo um pouco difícil. “Mas procuro usar bastante o vermelho, eu acho que é uma cor que representa bem o que eu quero expressar, porque o homem vive na sociedade de produção, tem que produzir, ganhar dinheiro.. eu vejo isso, o homem dando o seu sangue, o suor, por  coisas que as vezes não são necessárias”. O jovem critica a sociedade injusta, onde o importante é acumular e não satisfazer as necessidades.
 
O trabalho em Itapoá
Com o apoio do departamento de cultura da prefeitura, Juan começou a dar aulas de pintura na escola da área rural de Itapoá. “A minha intenção é fazer os jovens serem mais ativos na sociedade, porque através da arte você começa a questionar”, fala Juan sobre o trabalho voluntário. Para Rosilda Boldori, diretora do departamento de cultura, este é um trabalho maravilhoso. “Isso não vai ajudar somente ele, mas toda a cidade”. Rosilda elogia o jovem e fala que ele se envolve em todos os projetos culturais. “Ele é um exemplo, além de ser bom como artista, se preocupa com a sociedade, com o outro e em difundir a cultura”.
Ainda na companhia de livros e do vento do mar, Juan comenta que neste mês tem exposições marcadas em Curitiba. O jovem já expôs suas obras na décima edição do “Um domingo no jardim Maj”, no Museu de Artes de Joinville, teve uma exposição itinerante nas escolas municipais, uma na Escola Nereu Ramos e participou do primeiro Salão de Artes de Itapoá.
Segundo a organizadora do Salão de Artes, Sandra Devegili, professora de artes e mestre em patrimônio cultural e sociedade, a escolha de Juan para a participação do evento foi principalmente  pelo fato de estar iniciando sua trajetória como artista. “Eu vejo a produção do Juan muito consistente para quem está iniciando”, fala.
Hoje, o jovem estuda no segundo ano do ensino médio e, para aprimorar o talento, começou um curso de pintura em Joinville. Para o futuro, a única certeza de Juan é continuar o trabalho com a arte em Itapoá. “Eu quero que a cidade tenha um movimento artístico forte, se começarmos agora, isso pode evoluir junto com a cidade” acredita.

Fonte: Produção acadêmica de Augusta Fehrmann Gern